domingo, 18 de dezembro de 2011

"O sono extenso" de Sara Costa

um dia havemos de nos vingar de quem nos magoou
nem que isso seja um inflexão da liberdade
nem que seja só a difusão da inocência quando a achamos estar a perder
nem que isso seja
este cheiro lento e límpido a expandir-se pelas entranhas da obsessão
quando o mundo parece mais alagado em espasmos e imagens
do que propriamente em solidão.
mas tudo o que sabemos é que havemos de deixar Novembro, um dia
nem que para isso seja necessário criar algo maior do que nós
nem que para isso deixemos de dormir e deixemos de fechar a carne
e abrir a vértebra da noite.
o sono extenso chega ao de leve, pousa-nos nas feridas,
suga-nos a essência
e ser ou não ser passa a ser sempre uma questão de perspectiva.


Sara Costa nasceu em Oliveira de Azeméis em 1987, tendo atravessado o seu percurso escolar até ao ensino secundário em S. João da Madeira. É licenciada em Línguas e Culturas Orientais e Mestre em Estudos Interculturais: Português/Chinês pela Universidade do Minho. Actualmente, é Professora Assistente no Instituto Politécnico de Leiria.
É autora dos livros de poesia "A melancolia das mãos" e "Uma devastação inteligente".
É uma jovem escritora e poetisa que tem sido galardoada em vários certames literários e tem publicado poemas em diversas revistas literárias.
"O Sono Extenso" de Sara Costa
, obra vencedora do Prémio literário João da Silva Correia, cuja edição deste ano foi dedicada à Poesia.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

"Fado traçado" de Dina Silvério


Tracei caminhos
Entre agrestes montes.
Pisei espinhos e lama,
Mas não perdi o rumo.
Fui rosa e lírio,
Fui espiga e jasmim,
Canção e saudade,
Oceano sem fim.
Neste fado já traçado
Segui as aves do céu
E o sonho meu.
Rasguei as horas
Nos lençóis dos teus braços
E fui pelo mundo,
Seguindo este fado
De nunca te ter.
Por que o vento me levou
E em mim deixou
As marcas do passado.
Cantei lágrimas ao luar.
Fui louca e raínha
Fadista sem guitarra
E amor, sem amar.

in "Palavras e sentimentos"

Dina Silvério é natural de Ferragudo, Lagoa, Algarve, mas vive em S. João da Madeira há 13 anos, onde exerce a sua profissão como assistente social. Tem duas filhas e dedica-se à poesia como forma de evasão.
Tem já publicados dois livros em poesia e "Redescobrindo a minha alma" e "Palavras e sentimentos".